A Associação Rio-Grandense de Bibliotecários (ARB), considerando o cunho liberal e humanista da profissão, manifesta-se de maneira contrária à solicitação de retirada do livro “QUEER MUSEU: cartografias da diferença na arte brasileira”, do acervo da Biblioteca Pública Municipal de Uruguaiana, e também contra a moção de repúdio proposta na Câmara Municipal do mesmo município, conforme notícia de 6 de outubro de 2017, no jornal Correio do Povo.
Segundo a notícia, a motivação desta solicitação é o combate a obras “de mau gosto” e que “colocam em risco menores de idade”. Por fim, a notícia afirma que será solicitada a “análise de mais obras” para que “sejam retiradas por atentarem contra a moralidade”.
A Constituição brasileira determina em seu artigo 5°, inc. IX: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” e reforça no Art. 220: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.”
É inadmissível a ingerência dos vereadores, e de qualquer outro ente político, no desenvolvimento da coleção de uma biblioteca pública. Entre as missões da biblioteca pública, conforme o Manifesto da Federação Internacional de Associações de Bibliotecários (IFLA) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) estão: “Propiciar acesso às expressões culturais das artes em geral” e “Fomentar o diálogo intercultural e favorecer a diversidade cultural”.
O desenvolvimento de coleções de bibliotecas deve ser estabelecido em uma política de desenvolvimento de coleções que siga critérios claros, públicos e baseados em um estudo de comunidade e usuários. Ainda, a administração e direção de bibliotecas é de responsabilidade do bibliotecário responsável, conforme Lei nº 4.084, de 30 de junho de 1962.
Já em 1987, Waldomiro Vergueiro, bibliotecário brasileiro, alertava:
Neste instante, em que, neste País, experimenta-se o que alguns analistas denominam de intervalo entre as ditaduras, talvez tenha chegado o momento dos bibliotecários se prepararem devidamente para futuros e muito prováveis atentados contra a liberdade intelectual dos usuários de suas bibliotecas. Esta é uma discussão que deve ser levantada por toda a classe e na qual as associações, sindicatos e demais órgãos profissionais deverão assumir, necessariamente, um papel destacado.
Alguém aceita o desafio?
A ARB aceita o desafio e se posicionará sempre contra a censura em bibliotecas.
Nota do CRB10 sobre o tema: https://crb10.blogspot.com.br/2017/10/crb10-publica-nota-de-repudio.html
Fontes Consultadas:
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 5 out 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 06 out. 2017.
BRASIL. Lei n° 4.084, de 30 de junho de 1962. Dispõe sôbre a profissão de bibliotecário e regula seu exercício. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2 jul. 1962. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4084.htm>. Acesso em: 5 out. 2017.
IFLA/UNESCO. Manifesto da IFLA/UNESCO sobre bibliotecas públicas. 1994. Disponível em: <https://www.ifla.org/files/assets/public-libraries/publications/PL-manifesto/pl-manifesto-pt.pdf>. Acesso em: 06 out. 2017.
VEREADORES de Uruguaiana repudiam livro da “Queermuseu”. Correio do Povo. Porto Alegre, 06 out. 2017. Disponível em: <http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/Cidades/2017/10/630616/Vereadores-repudiam-livro-da-Queermuseu>. Acesso em: 06 out. 2017.
VERGUEIRO, Waldomiro de Castro Santos. Censura e seleção de materiais em bibliotecas: o despreparo dos bibliotecários brasileiros. Ciência da Informação, v. 16, n. 1, p. 21-26, jan./jun. 1987. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/article/viewFile/266/266>. Acesso em: 06 out. 2017.
Nenhum comentário “Nota da ARB sobre a solicitação de retirada de livro do acervo da Biblioteca Pública Municipal de Uruguaiana”
Colegas Bibliotecários, não podemos permitir que a Constituição seja rasgada dentro da Biblioteca, o espaço mais democrático e livre. Contem com meu apoio! Abraços
Sou bibliotecária, sou docente de Bibloteconomia e sou colecionadora de livros intantis,estou intensificando minhas falas a respeito desse assunto, pois o nó na,garganta está me sufocando…
Parabéns por sua resposta contra a censura e por sua argumentação tão clara!
Parabéns pela resposta e papel que desempenham. Querem impedir o exercício do pensamento crítico. Não podemos deixar a ignorância vencer.
Cuidado:
As caluniosas acusações de perversão à artistas, exposições e eventos culturais são na verdade uma estratégia que funciona como uma cortina de fumaça dos políticos oportunistas e grupos extremistas para desviar sua atenção da Lava-Jato e da corrupção!
Não permita isso!
Arte não é perversão!
Perversão é ser político corrupto num país onde os 5% mais ricos tem o mesmo volume de dinheiro que os 95% mais pobres!
#342Artes #ContraACensuraEADifamação #CensuraNuncaMais
Parabéns ARB por haver respondido à altura e marcado posição contra a onda de ignorância e obscurantismo daqueles que ensaiam retroceder aos tempos perversos da Inquisição!
Um absurdo! Com tantas censuras, até parece que estamos entrando em uma ditadura militar.
Bom, se assim for, é preciso tirar a Bíblia das bibliotecas! Lá encontramos genocídios, incesto, poligamia e até infanticídio!
Bravo! Parabens! Um comentario assim eu vejo com muito gosto vindo da minha ARB!
Dica: Terça-feira, dia 10.10. as 19:30 o evento ” Politicas Culturais em debate” no auditório do Goethe-Institut, Rua 24 de Outubro, 112, Porto Alegre
Parabéns a ARB pela posição por lembrar que a profissão de bibliotecário tem um caráter humanista, exatamente o que esta onda está tentando reverter.
E a minha OAB silente, acovardada e golpista.
Vergonha…